2009/11/07

Confissões esotéricas em tardes de nevoeiro





Para a minha eterna ausência de Ser,
To my undying absence of Being,

Hoje o Mundo deu um soluço, e ninguém notou. Na placidez dos teus olhos mornos – que me vão dissolvendo, sem querer – há uma voz que ecoa e me chama; e me diz para ficar.
E mal sabendo, mal sabendo... que os temores que se cruzam no cristalino do teu olhar, não carregam a mágoa de quem viveu – se dormindo passas os teus dias. Contudo, meu caro, e muitas vezes, os dilemas com que nos deparamos já foram previstos – e há na falta de novidade uma amargura Maior, que se impõe e fica.
A perenidade dos teus impulsos se consome em chamas ante os desígnios de quem já foi. Segue, sem pensar, porque não há maior angústia do que a de quem reflecte...
Não há certezas, mas apenas prós e contras, neste monólogo – do qual, numa tónica de dialogo, te apossas.  Et, en train de mourir… il y a des raisons plus fortes que, dans un rêve, me faire retourner à tes embrasses. Surtout, si on reste un peut dans le cours de ces années en cache; que la musique de ta voix se a fait plus savoureux à mon cœur. Ramène les préjudices à un niveau mondial; donc l’honneur de t’être connu, elle a plus de sens…

O que fica, então? O que traz de novo a própria dúvida de como andar? De não saber mais respirar, e vivendo_
O nada.
Um nada frio que se escalda na calçada que passa à frente da rua onde nasci, mas não moro. A mais lúgubre dor que escorre pelas ruas da que foi minha cidade, mas por qual hoje não sinto a menor empatia – nem amor, nem amizade, nem asco – mas uma indiferença dormente que só se aviva quando penso em a não mais ver.
Não tenho casa.
E toda a Razão dos anos passados é empalada por um valor maior que a ultrapassa: se a promessa do futuro for desprovida Valor, de que me servem então os dias, os anos, os meses terrenos passados na esperança aérea de me soltar destas amarras?

Não vou pedir desculpa por querer voar, se ao fazê-lo renego todo o fito da minha própria existência. Não parei para olhar para trás, e se egoisticamente tiver de cortar amarras: é um sim. Lamento abandonar a quem deixei cativo, mas neste Tempo não há nada que mereça algemas.
Sobrevivi presa e cabisbaixa tempo de mais.
Há um sacramento humano no sangue que me escorre do peito, dos olhos, da boca, da cabeça, quando o derradeiro acto catártico é nunca mais voltar.

E parto, e fujo, e vou e corro – não por ti, não para ti, mas pelo mero acto de te ter, um dia, amado.
O imperativo categórico kantiano é ultrapassado por um totalitarismo dissimulado, ao aproveitar o tempo ao máximo a troco de um Bem Maior.
Peanuts, my friend, para quem sabe e aguarda pela Hora do alinhamento perfeito. Garanto o que não posso, que haverá uma altura, o momento derradeiro em que tudo ficará nítido e todos os dissabores serão parte de um Todo maravilhoso...
Aos que tomaram a decisão fatal antes de terem nascido, que se deixem embalar pela nuissance de que haverá sempre quem há-de dar o seu melhor. Até ao fim.

Sim, perguntarei: o que levo então para o outro lado? Não o quanto fui Feliz, nem o que de bem fiz; tão pouco as alegrias da Vida, nem o transcender da sobrevivência: mas o quanto, no escasso tempo que me foi concedido, Amei de corpo e alma.


And, when forgetting, I give in to the foreseen solicitude of abandoning pain, vou caindo no facilitismo branco de mergulhar no breu dos oceanos, para não me ver.
Antes fora fácil soltar um “Adeus” fingido, quando não se quer a quem se deixa… Se as saudades só fazem sentido a quem sente falta. Hão-de entender…


Assim seja.
(e, não, não me vou despedir)

4 comments:

  1. "Não vou pedir desculpa por querer voar, se ao fazê-lo renego todo o fito da minha própria existência. Não parei para olhar para trás, e se egoisticamente tiver de cortar amarras: é um sim. Lamento abandonar a quem deixei cativo, mas neste Tempo não há nada que mereça algemas.

    Sobrevivi presa e cabisbaixa tempo de mais.

    Há um sacramento humano no sangue que me escorre do peito, dos olhos, da boca, da cabeça, quando o derradeiro acto catártico é nunca mais voltar."


    Muito bom ;)

    (Gosto mais de ler o que escreves em português do que em inglês... friso: opinião pessoal)

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  2. Obrigada Maria!
    Como sou eu que escrevo, não tenho opinião relativamente à língua... mas o que tenho no blog escrito em inglês faz parte de um projecto engraçado, daí ter alguma preferência por ele.
    Beijinhos

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  3. Acredito que não; presumo que seja mais fácil a quem está de fora fazer esse juízo... raras são as vezes em que isso não acontece.

    Pergunto-me se não pode o projecto tornar-se público ;)

    Cumprimentos

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  4. Graphic Lyrism. O nome diz tudo!
    A ideia é mesmo tornar-se público (quando for ou para Nova Iorque, em Janeiro, ou para Inglaterra, em Setembro).
    É uma mistura de escolas (nomeadamente o Futurismo literário, o teatro realista contemporâneo, entre outras) e de um entender a poesia na maneira que os gregos e romanos a viam (dando ênfase à tónica sinuosa e não à rima propriamente dita), que se traduz em escrita em que o elemento visual é o mais importante. É prosa poética, graficamente modelada de modo a transmitir o sentimento.
    Foi uma ideia engraçada que tive, mas não original de todo. Espero que pegue!
    Beijinhos

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